Tratamento cirúrgico do ligamento cruzado posterior

1 de junho de 2022

Como será o tratamento cirúrgico do ligamento cruzado posterior (LCP)?

A lesão do ligamento cruzado posterior nem sempre é cirúrgica. De forma geral, lesões isoladas em pacientes de demanda moderada são, na maioria das vezes, tratadas de forma conservadora (sem cirurgia). 


Alguns pacientes, porém, apresentam lesões muito instáveis, possuem lesões associadas ou apresentam demanda esportiva de alto rendimento. Dessa forma, o tratamento cirúrgico pode ser indicado nas situações abaixo:


  • Lesões agudas, incluindo avulsões com degrau tibial de 10mm ou mais; 
  • Lesões do LCP em conjunto com outras lesões estruturais;
  • Lesões crônicas isoladas quando se tornam sintomáticas ou quando instabilidade funcional progressiva acontece.


Os princípios gerais de tratamento cirúrgico do LCP são parecidos com os princípios gerais de reconstruções ligamentares elucidados na seção de ligamento cruzado anterior


Para realizar a reconstrução, precisaremos de um enxerto para substituir o ligamento, criar túneis ósseos para prover sua passagem e estabilizá-lo com materiais como parafusos e botões.


Enxerto


Por ser um ligamento muito robusto, há a preferência para uso de enxertos mais robustos como o tendão patelar, quadricipital ou enxerto de doadores ( halo enxerto). 



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Exemplos de enxerto de doadores/cadáver: à direita um enxerto retirado do tibial anterior e à direita um tendão de aquiles com plug ósseo.


Materiais de fixação


Para que o ligamento cruzado posterior seja fortemente fixado, é mais comum realizarmos uma fixação dupla contando com parafusos, postes e arruelas, botões, âncoras e outras técnicas. 

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De forma geral podemos elencar alguns pontos chaves para sucesso do tratamento cirúrgico: 


  • Identificar e tratar todas as lesões;
  • Colocar túneis anatomicamente adequados;
  • Inserção anatômica dos enxertos;
  • Usar enxerto forte;
  • Minimizar dobras de enxerto;
  • Tensionar o enxerto entre 70 e 90°;
  • Tensionamento adequado do enxerto(dispositivo biomet de tensionamento mecânico);
  • Utilizar fixação primária e backup;
  •  Reabilitação adequada. 


Equipamentos


Partes do procedimento utilizam tanto via aberta quanto artroscopia. Deve-se ter todos os materiais disponíveis quando necessários, dentre eles:


  • Material para Artroscopia;
  • Afastadores;
  • Equipamento para retirada do enxerto;
  • Parafusos normais/canulados/arruelas;
  • Parafuso de interferência;
  • Guias do LCP;
  • Brocas;
  • Fios guias;
  • Pinos ;
  • Entre outros.


“Timing” da cirurgia - Qual a melhor hora para ser operado?


O melhor momento de operar o ligamento cruzado posterior irá depender dos seguintes fatores: Status vascular, estabilidade da redução, condições sistêmicas e lesões associadas.


Lesões do LCP + LCA + LCM podem ser tratadas do LCM conservadoramente por 4-6 semanas e depois submetidas a reconstrução do pivô central (cruzados). Outros casos podem necessitar de reconstrução medial associada a depender de cada caso. 


Lesões LCP + LCA + canto-póstero lateral são tratadas assim que possível. A cirurgia de reparo/reconstrução entre 2-3 semanas proporciona tempo suficiente para que a artroscopia seja possível após cicatrização capsular e, ao mesmo tempo, ainda possibilita o reparo primário das estruturas posterolaterais. 


Lesões ligamentares múltiplas abertas podem necessitar de procedimento estagiado. As lesões capsulares e ligamentares periféricas são reparadas junto com a limpeza inicial e o Pivot central é reconstruído após cicatrização da ferida (sempre confirmar redução tibiofemoral nas reconstruções tardias).


Apesar das considerações acima, sempre considerar a individualidade do paciente (por exemplo, lesões vasculares, lesões de pele, outras lesões ósseas e outras lesões sistêmicas podem adiar o tratamento ou adiantar).


Técnica cirúrgica de reconstrução do LCP 


As duas técnicas abaixo são as principais utilizadas na reconstrução do LCP. 


Existem vantagens e desvantagens de cada técnica e cada caso deve ser avaliado de acordo com suas devidas peculiaridades e preferências do cirurgião


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Imagem da esquerda mostra a técnica usando um túnel através da tíbia (transtibial) enquanto a técnica da direita mostra a técnica inlay, em que o enxerto é fixado na tíbia com um parafuso posterior.


Defensores da técnica inlay advogam dizendo que ela elimina o “killer turn” e que reproduzem o ligamento de forma mais anatômica.


Pacientes com osteopenia ou fraturas prévias podem requerer técnica inlay para evitar migração proximal do enxerto.


Na reconstrução, deve-se ter muito cuidado com as estruturas vasculares, pois estão muito próximas do ligamento cruzado posterior.


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A imagem abaixo exemplifica todo o trajeto do enxerto (em amarelo) e mostra a diferença de tensão do ligamento cruzado anterior antes e depois da fixação e tensionamento do ligamento cruzado posterior, colocando a tíbia no lugar.


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Complicações


O risco de infecção sempre existe nas cirurgias, porém é ainda extremamente raro. 


Frouxidão residual (mais comum) - atribuída à falha na tensão/fixação, falha em reconhecer instabilidade adicionais, reabilitação agressiva. 


Lesão neurovascular (a mais temida) - precisa-se de boa compreensão da anatomia, afastamento de partes moles de cabeça medial do gastrocnêmio. Cirurgias de revisão aumentam a chance. 


Necrose avascular do CFM - pode ocorrer devido à dano ao osso subcondral e presença de túnel muito perto da cartilagem (sintomas começam meses/anos após reconstrução). 


Artrofibrose - pode necessitar de manipulação sob anestesia e quebra de aderências. 


Sd. Compartimental - pode ocorrer em lesões multiligamentares por extravasamento de soro. 

Além disso, o paciente poderá ter dor anterior do enxerto.


Pós operatório 


O pós operatório do LCP (cruzado posterior) é mais demandante do que o do LCA (cruzado anterior). A recuperação completa pode levar até 1 ano e deve ser focada em ganhar amplitude de movimento, reduzir dor e edema e fortalecimento de quadríceps. 


Deve-se evitar estresse no enxerto e restringir a translação posterior. Exercícios de cadeia aberta de flexores devem ser evitados por 3 meses. 


Imobilizador externo em dobradiça travado em extensão deve ser usado nas primeiras semanas. Descarga de peso deve ser feita com muletas nas primeiras 4-6 semanas e progressão conforme tolerado após. 


A progressão da amplitude de movimento passiva do joelho é supervisionada. Os exercícios devem ser feitos com o paciente em pronação para evitar estresse na reconstrução. 


Fortalecimento e isometria de quadríceps são realizadas assim que tolerado. 


O retorno ao esporte é programado em, no mínimo, 6-12 meses após boa força e controle muscular. 


É possível não operar o LCP?


De forma geral sim, é possível. Deve-se ter em mente, contudo, que alguns requisitos precisam ser preenchidos. 


Lesões isoladas de baixo grau podem ser tratadas conservadoramente. Nestes casos, deve-se trabalhar para a inflamação, ganho de amplitude de movimento e fortalecimento de quadríceps. O retorno às atividades do dia a dia pode ser esperado em 3-6 semanas a depender da gravidade e objetivos dos pacientes. 


Lesões combinadas (multi ligamentares) e lesões crônicas grau 2 ou 3 sintomáticas que falharam no tratamento conservador são candidatas ao tratamento cirúrgico se os pacientes não quiserem modificar atividades de vida. 


Avulsões ósseas, na maioria dos casos, precisam ser re-inseridas com parafusos de tração ou suturas trans-ósseas enquanto lesões no meio da substância requerem reconstrução ligamentar quando indicadas.


Indicações e contraindicações 


Indicações cirúrgicas para tratamento cirúrgico do LCP incluem: 


  •  Lesão grau 3 aguda;
  • Lesão crônica grau 3 com instabilidade após tratamento conservador; 
  • Lesões agudas do LCP com avulsão óssea ou lesões do canto posterolateral;
  • Lesão do LCP como lesão associada de lesão multiligamentar (especificamente lesão grau 2 ou + do LCM ou lesão do LCA).


Indicações relativas


  • Lesão grau 2 do LCP em paciente jovem, ativo com instabilidade sintomática após tratamento conservador.


O manejo não cirúrgico do LCP envolve um longo trabalho de reabilitação e restrição de atividades que forçam a sua atuação. Deve-se evitar, inicialmente, o fortalecimento dos tendões flexores e focar no fortalecimento de quadríceps. 


O ganho de movimento deve ser feito, de preferência, em posição de “barriga para baixo” para evitar a ação contrária da gravidade.


Procure sempre um ortopedista especialista em joelho para te orientar!

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Dr. Diego Munhoz

Médico ortopedista especialista em cirurgia de joelho graduado pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da USP.

Acompanha com proximidade o quadro clínico do paciente e atua do diagnóstico a reabilitação!

  • Graduado em medicina pela Universidade de São Paulo (USP);
  • Residência em Ortopedia pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da USP (IOT HC FMUSP);
  • Especialização em cirurgia de Joelho pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da USP (IOT HC FMUSP);
  • Preceptor dos residentes de ortopedia durante o ano de 2018 no Instituto de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da USP (IOT HC FMUSP);
  • Preceptor dos alunos de medicina(internos) durante o ano de 2019 Faculdade de Medicina da USP (IOT HC FMUSP);
  • Habilitado em Cirurgia Robótica do Joelho;
  • Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho;
  • Membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia;
  • Atualmente, cursa doutorado pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da USP (IOT HC FMUSP).
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